Ornette Coleman (n.1930)
> sax alto, sax tenor, trompete, violinoOrnette Coleman é um personagem que desafia classificações. Inventor do free jazz, Coleman pode ser um revolucionário, um iconoclasta, um visionário talvez - tudo menos um estilista "padrão" do jazz. Adora brincar com fogo, isto é, flertar perigosamente com o excesso, o mau gosto, a fragmentação, levando-nos desse modo (e é exatamente essa a sua intenção) a questionar tais conceitos. Autodidata, Coleman enfrentou bastante oposição no meio musical, no início da carreira, devido ao seu estilo "feio" de tocar. Por força das circunstâncias, precisou exercer diversas profissões e "bicos" que nada tinham a ver com música.
Certamente tal incompreensão calou fundo na personalidade desse homem de temperamento manso e cordato. Mas suas convicções estéticas eram fortes e permaneceram latentes, prontas para explodir, até que, em 1958, Coleman encontrou sua turma: um grupo de músicos com idéias afins, entre os quais se encontravam o trompetista Don Cherry e o contrabaixista Charlie Haden.
Em 1960 Coleman grava o disco que constitui um dos documentos fundamentais do jazz moderno: Free Jazz, com um quarteto duplo formado por Coleman, Don Cherry (pocket trumpet), Eric Dolphy (clarone), Freddie Hubbard (trompete), Charlie Haden e Scott LaFaro aos contrabaixos, e Ed Blackwell e Billy Higgins às baterias.
Nas décadas seguintes, Coleman grava um número considerável de discos, como líder e como convidado, ora com grandes nomes da vanguarda jazzística, ora com músicos pouco conhecidos. Sua carreira e sua evolução estilística ao longo do tempo parecem espelhar o caráter de sua música, isto é, imprevisível. Sua música é ora genial, ora trivial, ora concentrada, ora dispersiva, ora ambiciosa, ora despretensiosa. Além de seus colegas habituais, Coleman também tocou com quarteto de cordas, com músicos oriundos do rock, com trio sem piano, e em duo com contrabaixo. E deve-se registrar as suas incursões ocasionais pelo sax tenor, e, mais por provocação, pelo trompete e o violino, os quais toca de maneira anti-acadêmica, muito pessoal.
(V.A. Bezerra, 2001)